sábado, 21 de novembro de 2009

De feiticeiras, sopranos e contraltos (de Alma Welt)

Posto aqui, depois de meses, este incrível soneto da grande poetisa Alma Welt, a quem me rendi, reconhecendo a sua existêcia real, depois de muito "especular", pois tal genialidade só pode ser oriunda de um ser real, que habitou entre nós e continua vivo por sua obra imortal.


De feiticeiras, sopranos e contraltos (de Alma Welt)

Amar, grande mistério, é Deus em nós,
Assim como odiar é o Diabo.
E este dito perdura muito após
O tempo em que o cujo era invocado

Não só a torto e a direito nas igrejas
Mas na cozinha das velhas feiticeiras
Que com a feiúra e nariz de brotoejas
Aqueciam mais que nossas mamadeiras,

Mas asas de morcego e alguns sapos
Com o fio de cabelo de um incauto
Que ousara cuspir nos nossos trapos.

Bah! Miséria... do soprano até o contralto,
Destino da mulher por tantos séculos,
Pernas abertas a sementes e espéculos!...

(sem data)


Notas
Acabo de encontrar na Arca da Alma, este forte e chocante soneto, a meu ver, profundamente feminista.

*...do soprano até o contralto - Alma quer dizer: das mulheres frágeis até as mais fortes.

*...sementes e espéculos - significa a procriação e a tortura (espéculo, hoje em dia um instrumento médico ginecológico, era um instrumento de ferro para torturar mulheres nas masmorras da Inquisição. Sugestivamente, a palavra deriva do latim, speculum = espelho. (Lucia Welt)

Nenhum comentário:

Postar um comentário